Caminhoneiros
à beira da estrada incendiada pelos sóis de dias inteiros,
espalitam os dentes e lutam contra as moscas enquanto esperam. À
espera de um milagre estão as moças casamenteiras que prometem
mundos e fundos a Santo Antônio, e brigam com o santo quando supõem
desinteresse de sua parte. Nós, por nosso turno, esperávamos apenas
o pneu da Savana, matando o tempo como podíamos. Escrevendo no blog,
dormindo, combatendo barulhos suspeitos no carro, vimos todos a
quarta-feira encerrar-se lenta e sem maiores agitações.

Coisa
bem diferente foi o dia seguinte. Colocamos o pé na estrada
novamente, com as energias recuperadas e os carros 100% prontos para
continuar cumprimentando as profundezas deste país. Dar a elas o
nosso mais cordial Alô. E assim nos encaminhamos na direção de São
José do Xingu, deixando o Mato Grosso cada vez mais distante no
retrovisor e atentos às placas que nos levariam a Rondônia. Ainda
nos custariam alguns dias chegar lá, com as estradas um pouco
piores, mas sem a lama esperada. A paisagem, como de hábito,
afigurou-se impecável. Fosse preciso interromper o percurso para
fixar as belas vistas, e é bem provável que ainda estivéssemos
nas redondezas do Tocantins.

Almoçamos
numa cidade que ainda não existe. Espigão do Leste é ainda um
distrito de Água Boa, lugarejo um pouco maior e mais bem equipado,
mas segundo nos contou Rubinho, dono do restaurante, breve deverá
conquistar sua emancipação.
A tarde
já ia-se pela metade quando pusemos de novo os carros nas trilhas.
Aqui e ali um pouco de lama, a constante ameaça de chuva que se
cumpriu apenas umas poucas vezes e o céu desabando o seu azul escuro
sobre nossas cabeças.

São
muitos os Xingus e seus santos, de modo que deve ser perdoável que
já no final do percurso tenhamos nos enganado e partido
decididamente na direção de um São Félix, quando queríamos um
São José. O erro nos custou uns 20km, mas nos deixou a
possibilidade de um belo encontro: cruzamos com uma família
embarcada num Fiesta convalescente, cansado de guerra, e derrotado
pela falta de bateria à beira da estrada. Foram, inclusive, eles que
nos alertaram sobre o caminho adequado enquanto ajudávamos a
ressuscitar o veículo.

No
caminho certo, chegamos a São José do Xingu ao cair da noite e nos
hospedamos no hotel Elite, após um jantar simples e regozijante, com
peixe frito e mandioca. No dia seguinte, logo após o café, nos
esperava a estrada para um dos dias mais agitados da viagem.
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