7º
dia, 12 de abril de 2013. Impressões do Zampa
Saímos
de Carlinda com destino a Colniza, via Cotriguaçu. Seriam mais de 400 km. Tendo em vista
que no dia anterior tínhamos rodado isso, com balsas e desatolamento de
carreta, então parecia realizável. Na verdade, antes mesmo de começar nossa
expedição, tínhamos tomado a decisão de que nossa única meta era viajar, sem
correrias, sem atropelos, sem desesperos: o nosso prazer em parar para contemplar
uma aglomeração de buritis – as fantásticas palmeiras, onipresentes na
narrativa de João Guimarães Rosa e suas “geraes” – um belo igarapé ou rio, uma
enorme castanheira, um lindo por do sol, ou simplesmente uma plantação, pasto
ou boiada, estava acima de qualquer meta. Assim, na noite anterior,
simplesmente revisávamos a direção que iríamos seguir. Pararíamos quando
escurecesse. Embora estejamos equipados com material de camping, sabíamos
que, ao final de um dia intenso, uma cama seria mais acolhedora, de maneira que tentamos
fazer coincidir o anoitecer com algum vilarejo onde dormir. Até aqui os hotéis
tem variado pouco de qualidade, exceto o mais caro deles, nossa primeira noite
na estrada, em Barreiras: R$ 150,00 em quarto triplo. Os demais oscilam entre
R$90,00 e R$120,00. Sempre procuramos por quartos triplos, seja pelo preço, seja pela oportunidade de
ficarmos juntos, trocando impressões sobre a viagem e pessoas, enfim o salutar
hábito de jogar conversa fora.
Pegamos estrada. A cada quilometro a
qualidade da pista oscilava. A sensação de que o barro estaria piorando nos
deixava animados. Trocávamos impressões pelos rádios. Não demorou muito para
que numa subida – sem grandes atoleiros – especialmente lisa, encontrássemos um caminhãozinho
baú atolado. Embora não fechasse fisicamente a estrada os demais
caminhões não se arriscaram a sair da trilha principal para passar pelas laterais,
correndo o risco de derraparem e atolarem feio. Com a L200, Newton passou fácil
e nem precisou de minha ajuda para arrastar, ladeira acima o Ford Cargo 815.
Tocamos adiante. Pela hora do almoço, nova ladeira. Desta
feita grandes carretas e bi-trens, carregadas de soja, arroz e madeira, vindo
em sentido contrário estavam empacadas, segurando o trânsito dos demais, inclusive
ônibus . Fomos avaliar a situação e concluímos, junto com os motoristas das carretas que, desta feita, nossas viaturas seriam impotentes para arrastar, morro acima, veículos tão pesados.
A solução
foi passar pela lateral, coisa que os caminhões não faziam com medo de
derrapar e tornar tudo pior. A ironia é
o nome grafado na primeira carreta atolada: Urbano. Longe disso!
Seguimos
adiante. Passamos batido pela entrada de Alta Floresta e seguimos. Exceto por
pequenos atoleiros nas baixadas e algumas ladeiras especialmente lisas, como as
descritas, a estrada estava boa. Boa demais para nosso gosto.
Trechos
retos. Fendas abertas na mata. Ao lado, torres de alta tensão levam energia
elétrica para quase todos os lugares. Casebres, cobertos de folhas de palmeira,
com energia. É o sucesso do programa “Luz para todos”, levando o mínimo de
conforto para o sertanejo, enfiado mata adentro.
Estávamos na MT 208 e uma placa oficial do governo do Mato Grosso anunciava que exatos 39,5km seriam asfaltados em 420 dias (mais de uma ano!!) mas, sorrateiramente, não indicava a data de início ou de término da obra.
Seja como for, o asfalto deve ter ficado
na placa ou ido parar nos bolsos de alguém. É bem verdade que algumas pontes de
cimento (de uma via) estavam prontas, mas a maioria era a tradicional, de
troncos e tábuas, e não vimos nenhum sinal de obras. O certo é que na estrada o asfalto não
estava, para tristeza dos moradores e alegria nossa. Belos e volumosos rios
médios, se sucediam.
A fome apertava. Para minimizar seus efeitos tínhamos barrinhas de cereais, preferidas de Lucas e Newton, mas eu apelava mesmo era a famosa pipoca japonesa, da qual levei sacos e sacos. Hidrato de carbono, pouco açúcar, sem sal e, o mais importante: sabor de infância! O que nos animou foi que descobrimos que o paraíso não estava longe. Ao menos a lanchonete “Paraíso Tropical”. Japuranã, onde almoçamos, não estava longe.
A estrada estava melhor, mas a cada
quilometro rodado se tornava mais estreita e a mata parecia querer retomar o
território que um dia fora seu.
Não é de se entranhar que tenhamos
avistado uma capivara – o bando deveria ter terminado de atravessar a estrada,
já que este não é um animal solitário – que não ligou muito para nós.
Alguns quilômetros adiante e
chegamos ao atracadouro às margens do grande Juruena e lá estava o famoso
“hotel e restaurante”, cuja placa havíamos visto à beira da estrada, quilômetros
atrás. As telas em todos as janelas e áreas construídas indicavam que
ali os mosquitos não brincavam em serviço. Não tardou e descobrimos isso na
pele.
Eufóricos, fomos logo descendo dos carros, animados com a paisagem do grande rio. Nos demos conta do ataque quando os primeiros dos milhares de mosquitos piuns que sorrateiramente sugavam nosso sangue já estavam satisfeitos e o efeito do anticoagulante expelido por eles começou a causar reação. Apelamos imediatamente para os repelentes até então sem uso, mas qual o quê! Nada parecia intimidar a chusma sanguinária. Newton sentiu o efeito com mais intensidade e ficou com braços e pernas empoladas. A solução foi imediata: entrou na Savana, ligou o ar condicionado e ali ficou num exílio confortável! O terreno molhado, as galinhas e os porcos soltos que perambulavam em meio à sujeira certamente contribuíam para a tamanha proliferação de sedentos mosquitos. A falta de higiene era óbvia. Ainda bem que havíamos almoçado noutro lugar. Eu e Lucas nos afastamos da casa/bar e procuramos sombra mais distante. Lá os ataques quase não existiam. A hora de espera da balsa, nunca pareceu tão longa (pegamos a das 15:30hs).
No meio do rio, para nosso alivio, não havia mosquitos. Um dos marinheiros
disse que já se habituara aos mosquitos. Difícil acreditar a se julgar pelo
estado de seu pescoço que parecia um campo minado por milhares de picadas. Atravessamos
o Juruena em cerca de meia hora. Um estrada difícil, cheia de buracos e lama,
tomou-nos 03 horas para percorrer os 70km que separam a balsa de Cotriguaçu. Chegamos
às 18:00hs. Havíamos rodado 413km em 9:30hs. Como sempre a prioridade foi localizar um hotelzinho, depois seguir para a cervejinha, tira-gosto, banho e cama, não
sem antes insistir em ter acesso à internet. Tarefa mais penosa que dirigir o
dia todo!
qual o telefone de vcs e o junior de manaus
ResponderExcluirmeu telefone e 092 992043170
ResponderExcluirInteressante ver uma carreta da minha cidade, Jaraguá do Sul, norte de SC a milhares de km levando o Arroz Urbano (de propriedade do sr. Urbano Franzner).
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